terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Capítulo Onze - Enfermaria

Minha cabeça doía. Mal consegui abrir meus olhos porque eles queimavam. Esforcei-me um pouco, mas a claridade me incomodava. Apertei-os e tentei abrir de novo, agora a claridade já não era o problema. Vi uma pessoa inclinada sobre mim e outra ao fundo, não consegui reconhece-las porque meus olhos estavam embaçados, mas então tudo começou a clarear. Era Thiago e Will, ambos tinham uma expressão alarmante. Suas sobrancelhas estavam suspensas e os olhos arregalados. Assim que pisquei algumas vezes e dei por mim os dois pareceram se aliviar.
           
            -Kelly, você tá bem? – Thiago disse se inclinando ainda mais sobre mim.
            -Acho que sim. – Tentei levar minha mão à testa, mas me mexer pareceu impossível, desisti.
            -Tá sentindo alguma coisa? – Will tirou Thiago de cima de mim e me encarou.
            -Acho que não. – Agora tinha percebido que minha voz estava mole. Tive vontade de dormir.
            -Precisa de alguma coisa? –Will passou a mão no meu cabelo.

            Já estava sem forças para falar e tentei chacoalhar a cabeça, mas aquilo doeu profundamente, sem contar que meu estomago embrulhou e a minha vista se embaralhou. Fiquei zonza, acho que ia vomitar ali mesmo.
           
            -É melhor saírem. Preciso examinar ela. – Ouvi uma voz calma e ao longe vi uma mulher ruiva que vestia um jaleco branco enxotando Will e Thiago da sala.
            -Se acontecer qualquer coisa me avise. – Will não tirava os olhos de mim.
            -Sem problemas. – Ela fechou a porta e se dirigiu até mim – Oi querida. Meu nome é Cristina, sou a enfermeira-chefe daqui da mansão. Will me disse que você desmaiou. Se lembra de alguma coisa? – Enquanto falava ela tirou o estetoscópio do pescoço e começou a examinar meu coração.
            -Não. Só lembro de sentir muita dor.
            -Se levante, por favor. – Ela ajudou eu me sentar – Onde doía?
            -Minha cabeça. Parecia que minha testa estava sendo partida ao meio.
            -Que estranho. – Cristina pegou aquela “mini lanterna” e examinou meu olho – Alguma outra dor?
            -Não, mas eu senti muito enjoo e não enxergava nada. É tudo que eu me lembro.
            -Podem ser sintomas de várias doenças. – Ela colocou o estetoscópio outra vez no pescoço – Já se sente melhor?
            -Minha cabeça ainda está latejando. – Fechei os olhos e respirei profundamente tentando colocar o estômago no lugar.
            -Vou te dar o remédio e você dorme aqui na enfermaria hoje. – Ela se virou de costas para pegar algo e então me lembrei de Caroline!
            -Que horas são?!
            -Devem ser umas 7h da manhã. – Cristina já tinha se virado e caminhava em minha direção.
            -Eu preciso sair! – Coloquei os pés para fora, mas não alcancei o chão.
            -De modo algum! – Cristina me colocou de volta na maca e me entregou um copo com dois comprimidos – Espero que ajude.
            -Mas eu tenho um compromisso! – Ignorei o remédio.
            -Você pode até não entender a gravidade da situação, mas eu entendo. Beba isso agora. – Ela não estava brava, mas falava autoritariamente.
            -Sim senhora. – Me redimi.
            -Pode me chamar de Cris.

            Engoli os dois comprimidos brancos que desceram como lâminas pela minha garganta. Não consegui parar de pensar no que Caroline queria comigo. Será que era uma armadilha? Um segredo? Será que ela ia pedir ajuda com algo?
            Eu estava me mordendo de curiosidade! Precisava sair dali de qualquer jeito! Fiquei bolando qualquer situação para sair, olhei fixamente para o teto enquanto Cristina terminava de ajeitar algumas coisas, assim que terminou de organizar ela mediu minha temperatura com a mão e se sentou numa poltrona de frente para mim, alcançou um livro e começou a ler.
            Aquilo estava entediante e meus olhos começaram a pesar. Devo ter cochilado alguns segundos e vi Cristina me observando minuciosamente. Minha ficha caiu! Se eu dormisse talvez ela saísse. Fechei os olhos e fingi dormir. Senti uma mão sobre minha testa e depois uma leve pressão sobre meu peito, ela ouvia meu coração. Permaneci com os olhos fechados e devo ter dado outra cochilada. Mas despertei assustada e quando olhei estava sozinha, Cristina tinha ido. Ótimo! Coloquei meus pés para fora da cama e caminhei até a porta, não havia ninguém lá fora. Comecei a descer os lances de escada com um pouco de dificuldade e medo de passar mal. Mas já estava tão longe da enfermaria que aquilo me motivou.
            Cheguei ao último degrau. Não havia ninguém por perto. Fiquei com um pouco de medo de Caroline estar lá fora e tentar me atacar. Não sabia ainda o que ela queria comigo e, apesar da minha curiosidade, tive muito medo. Então decidi espiar primeiro pela janela. Caminhei com certa dificuldade, tentando não cambalear, alcancei a cortina escura e grossa e senti vontade de arrancá-la e abraçá-la tamanho era seu conforto. Aquele veludo era adorável. Segurei suas laterais pela abertura no meio e a abri. Foi terrível. Meus olhos estavam incendiados, minha pele inteira formigava. Minha reação imediata foi colocar as mãos em frente aos olhos fechados, mas não suportei. Doía demais, parecia que estavam enfiando milhões de agulhas em mim. Estava tão dolorido que mal conseguia me mexer, fechar a cortina então, nem pensar. Dei um passo para trás, tropecei em algo, provavelmente no meu próprio pé e cai. Bati a cabeça no chão com tanta força que até fez barulho e apaguei, pelo menos o sol já não batia mais no meu rosto.

•••

Lentamente aquela claridade começou invadir meus olhos. Estava na enfermaria de novo. Minha cabeça ainda doía e senti meus braços dormentes. Olhei para o lado.

-A Vampirinha suicida acordou. – Um garoto loiro de olhos claro e barba rala me olhava sorrindo.
-Kelly! Você queria se matar? – Cristina se aproximava com o tom de voz preocupado. Estava tão perdida que não conseguia entender.
-O que? – Respirar fazia minha cabeça doer.
-Te disse que era pra ficar aqui. Por que você desceu?
-Eu... – Não podia comentar nada – Só queria sair daqui.
-E por que abriu a cortina?
-Não sabia que ia me afetar assim.
-Sorte sua que o Nicolas estava descendo e te ouviu cair, se você ficasse mais algum tempo na claridade ia se machucar gravemente.
-Obrigada. – Olhei para o menino loiro, acredito que ele seja o Nicolas.
-Sempre uma honra salvar donzelas indefesas. – Ele deu um sorriso torto acompanhado de uma piscadinha.
-Você não tem permissão para sair de dentro da mansão pelo próximo mês. Afaste-se das janelas, são armas perigosas para novatos.
-Mas e as aulas?!
-Estava conversando com Nicolas. Ele é mais velho, vai te ajudar nas aulas teóricas. Depois que você melhorar pode continuar com as aulas práticas normalmente. Essas manchas vermelhas no seu braço devem sumir em breve, mas sua pele ainda continuará sensível. – Ela leu seu bloquinho – Por enquanto é só. Devo avisar Willian?
-Não, por favor.
-Tudo bem. Nicolas disse que o barulho foi alto. – Ele concordou com a cabeça e assoviou – Precisa de um analgésico?
-Sim, preciso. – Me sentei na maca e ela foi buscar perto do que parecia uma pia. Entregou-me e eu engoli.
-Ainda não descobrimos a causa do seu primeiro desmaio. Vou dar mais uma lida em alguns livros, fazer algumas pesquisas, mas você está livre. Pode ir para seu quarto.
-Finalmente. – Joguei as pernas para fora da maca.
-Leve isso. – Ela me entregou uma bolsa de sangue – E consuma de preferência.
-Tá certo. – Apanhei a bolsa e a encarei – Obrigada, até mais.
-Volte amanhã para eu te examinar de novo. – Cristina disse colocando o estetoscópio em cima de uma mesa e tirando o jaleco. Assenti com a cabeça e caminhei em direção à porta.
-Vou te acompanhar. – Ouvi Nicolas logo atrás de mim.
-Não se preocupe. Não vou desmaiar de novo.
-Provável. Não existem muitas janelas na escada. – Ele riu levemente.
-Para minha sorte. – Ri com ele.
-Já cometi esse erro. Sei muito bem o que você passou. – Ele deu de ombros.
-É horrível. – Me doeu só de lembrar – O que você fazia acordado àquela hora?
-Tenho muita sede, principalmente durante o dia.
-Nossa, que ruim.
-Não gosta do sangue ainda, não é? – Deu uma gargalhada baixa, sua risada era tão fofa.
-Não, é nojento. E saber que é bom é mais nojento ainda.
-Logo você se acostuma.
-Assim espero. – Ri e avistei a porta do meu quarto – Obrigada pela companhia.
-Eu quem agradeço, foi um prazer. – Sorriu – Posso te esperar na biblioteca às 18h30 para nossa aula?
-Biblioteca? – Minha espinha se arrepiou.
-Acho que não deve ter uma sala disponível.
-Vou pedir uma para Willian, podemos nos encontrar no refeitório?
-Você parece ser bem íntima dele.
-Um pouco. – Sorri.
-Perfeito, nos vemos às 18h30. – Ele segurou minha mão livre e a beijou – Tenha um bom descanso.
-Obrigada, tenha um bom descanso também. – Sorri e o vi se afastar.

Ele parece ser legal, é um tanto simpático. Acredito que nos daremos bem, estou um pouco ansiosa para essas aulas teóricas, tomara que sejam legais e úteis. Ri mentalmente enquanto adentrava o quarto. Fiz um pequeno rasgo na bolsa de sangue e bebi um gole. Meu nojo estava diminuindo, finalmente. Terminei de tomar o sangue, escovei meus dentes e fui para a cama. Finalmente ia dormir sem desmaiar. Uau, que dia!

Um comentário:

  1. Perfeito , quero mais ! To curiosa e ansiosa para a continuação

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