domingo, 15 de setembro de 2013

Capítulo Sete - A Caça

-Mas Will... – Ele já estava saindo do carro.
-Anda logo. – Ele ficou sério e bateu a porta do carro. Fiquei desesperada, eu não ia permitir que Willian ferisse um garoto que não tem nada com isso. Sai do carro e dei passos rápidos até ele.

-Will, o que você vai fazer?! – Já estávamos parados em frente ao garoto. Will o olhava, analisava sua expressão. O garoto parecia aflito, os olhos estavam trêmulos e suas mãos que estavam dentro do bolso do moletom estavam fechadas. Toquei o ombro de Willian.
-Foi mal, cara. Eu to limpo. – O garoto se pronunciou com a voz arranhada. Willian ainda o observava. – Olha, mas eu conheço alguém que você pode conseguir...
-Você está mesmo limpo. – Will concordou enquanto farejava. Então seus olhos se modificaram. Novamente adquiriram características dos olhos de um lince. Estavam como da vez em que eu fui tomar o sangue.

Quando Willian estava prestes a atacar o garoto, a minha visão ficou turva outra vez, apertei o ombro de Will com medo de perder os sentidos e ele se virou rapidamente e me segurou pelos braços. Minhas pernas estavam firmes, mas eu não consegui controlar a minha mente e a visão aconteceu.
A rua que apareceu era a mesma em que estávamos, mas o ponto de vista era outro. Nas árvores próximas tinha uma mulher sentada num galho grosso, encoberta pelos galhos mais finos e ela nos observava. Tinha um sorriso perverso no rosto e parecia ansiosa. Ela esperou pacientemente Willian intimidar o garoto e antes que ele o atacasse, a moça da minha visão já estava próxima a nós e tinha derrubado o garoto, o impacto foi tão grande que ele desmaiou. A mulher tirou do bolso um vidro pequeno com um conteúdo avermelhado e despejou na boca do menino. Will e ela trocaram olhares ferozes e pareciam duas feras disputando território.
Voltei a realidade. Willian me olhava ansioso e seus olhos tinham voltado ao normal. Eu estremeci, Willian parecia preocupado.

-Você tá bem?
-Tem alguém nos vigiando! – Apontei para as árvores que tinha acabado de reconhecer. Will farejou novamente e seus olhos voltaram a ficar atentos e as pupilas finas. Então ele se desesperou por alguns momentos, virou-se para as árvores e ficou na minha frente, ele olhava fixamente e o menino parecia confuso. – Corre! – Eu disse para ele, que deu alguns passos de costas antes de se virar e correr pelo caminho que tinha usado.

A mulher da minha visão surgiu caminhando lentamente. Ela era linda. Seus cabelos escuros estavam na altura dos seios, seus olhos eram duas pérolas negras e brilhavam intensamente. Lábios bem definidos e naturalmente avermelhados. Suas bochechas eram gordinhas, seus traços eram perfeitamente definidos e seu corpo todo curvilíneo. Ela usava um vestido estilo sereia preto bem decotado com as mangas de renda e com alguns detalhes roxos.
Apesar de bonita ela tinha uma expressão maligna, um sorriso irônico nos lábios e caminhava com grandiosidade. Willian estava hipnotizado e parecia surpreso. A mulher se aproximou e percebi que era bem mais jovem do que parecia. Estava uns 10 metros de distância e encarava Willian. Ele olhava de volta, mas com os olhos um pouco arregalados e, talvez, atentos.

-Quem é você? – A voz dele saiu áspera.
-Você pode me chamar de Caroline. – Ela sorriu malignamente.
-O que está fazendo aqui?
-Eu também gostaria de saber o que fazem aqui. – Ela inclinou um pouco a cabeça para a direita. – E como sabiam que eu estava aqui?
-Não é seguro uma garota ficar sozinha esse horário num lugar tão desértico.
-Não pedi sua opinião! – Ela cuspiu as palavras.
-Quem é você? – Willian repetiu a pergunta e agora estava irritado.
-Você sabe muito bem quem eu sou. – Ela respondeu igualmente irritada.
-E o que você quer? – Willian berrou e deu dois passos a frente.
-Quero o que todas querem! Queremos paz! Aquele humano cretino tinha acabado de jogar um cigarro aceso num gramado, você sabe o que isso poderia virar?! – Sua raiva era tanta que ofuscou toda a sua beleza. Ela gritava com ódio, eu sentia o tremor da voz, as ondas sonoras me envolverem como gavinhas do mal.
-Eu daria um jeito nisso!
-E largaria o corpo imundo para apodrecer e poluir a Natureza!
-Poderíamos trabalhar em parceria.
-Não estou aqui para negociar! Todos vocês deveriam morrer! – Ela se aproximou de Will.

Willian a empurrou com brutalidade e ela caiu de costas no chão. Era visível no seu olhar que a garota não esperava por isso. Antes de tentar se levantar, Willian já estava por cima dela, forçando seus ombros no chão, imobilizando-a. A encarava rancorosamente e sua respiração estava pesada. A garota não sabia o que fazer e sua maldade havia se dissolvido, deu lugar ao olhar espantado, ao medo.

-Vocês são ridículas! Querem o impossível! Cretinas são vocês! – Willian parecia um animal rosnando e a garota estava em apuros.
-Will, para com isso! – Intervi.
-Cala a boca! – Ele gritou sem me olhar.

A menina não conseguia falar e Willian não se acalmava. Os olhos dele começaram a se afinar novamente, as veias do pescoço e dos braços estavam estufadas, seu rosto estava deformado por conta da raiva, sabia que o que estava por vir era ruim. Eu dei mais alguns passos e parei ao seu lado, mas foi em vão, ele não tirava os olhos dela e parecia que a mataria em qualquer instante. Os olhos dela estavam arregalados e o desespero se transformou em lágrimas. Ela forçou os olhos, assim como eu costumo fazer, e apenas uma gota escapou. Escorreu pela lateral do olho esquerdo, lentamente. Ela murmurou algo e depois pareceu recitar uma frase, mas sem som.
Aquilo pareceu chocar Will, lentamente sua raiva foi passando e ele voltou a admirá-la. Caroline suspirou e pareceu aliviada.

-Will, chega. – Falei baixo.

Ele assentiu e se levantou lentamente, não tirava os olhos dela. Assim que ficou em pé do meu lado, Caroline se levantou devagar e saiu correndo, olhando para trás o tempo todo.

-O que foi isso? – Olhei para Willian
-Nada. – Ele falou baixo enquanto olhava para a direção que a menina tinha corrido, sequer piscava.
-Você iria matar a menina! Como não foi nada? – Apontei na direção que ele estava olhado.
-Não! – Ele berrou e segurou firme meu pulso com a sua mão direita se virando de frente para mim – Ninguém pode saber disso! – Ele estava muito bravo.
-Então me diz o que foi isso!
-Você não precisa saber. – Ele disse rangendo os dentes, me soltou e andou rapidamente até o carro, olhando o tempo todo para a direção que Caroline tinha saído.

Olhei para o chão. O frasco vermelho da minha visão estava caído, com certeza ela perdeu quando Willian a derrubou. Me abaixei rapidamente e o apanhei sem que Will percebesse. Estava de costas para o carro então aproveitei pra observar. O frasco era pequeno, parecia aquelas embalagens de amostra grátis de perfume, e o líquido era aguado e com a coloração fraca, mas ainda era avermelhado.

-Anda logo Kelly.

-To indo. – Guardei o frasco no bolso da calça e fui até o carro.

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