segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Capítulo Nove - O Charme de Thiago

Caramba! Estou pasma! Essa aula foi muito legal, o professor nos colocou pra correr, literalmente. Aprendemos a controlar nossa velocidade sobre-humana. Foi muito divertido. Thiago me ajudou hoje também e dessa vez não preguei nenhuma peça nele.
Teve também um momento engraçado, pra mim. Ele estava correndo, olhou para trás e atropelou uma árvore. Foi engraçado, mas fiquei com dó. Sorte que eu estava ao seu lado, ajudei-o a se levantar e seus olhos azuis estavam um pouco arregalados e confusos, ele parecia envergonhado, agarrei sua mão com rapidez e o ajudei a se por de pé. Saímos correndo outra vez, Thiago estava um pouco perturbado e não me olhava. Depois que fomos aprovados pelo professor ele nos liberou e eu duvidei que Will aparecesse. Estava em dúvida se deveria perguntar para Thiago sobre o corredor cinco ou não. Fui surpreendida por ele me chamando. Thiago estava me convidando para ir até o "lado claro" da mansão, onde estavam os banquinhos e as árvores. Não estava com fome, Will não ia aparecer tão logo e eu não pretendia aparecer tão cedo na biblioteca, resolvi aceitar. Estávamos quase chegando ao banquinho de destino quando fomos surpreendidos por um barulho no mato e paramos. Thiago me olhou esperando por uma resposta que eu não tinha, então ele se posicionou entre mim e a origem do barulho. De repente tudo ficou turvo e eu pensei que fosse ter outra visão, mas ai tudo se normalizou pra mim, eu pude ver alguém se levantando do meio dos arbustos e a reconheci na hora! Era Caroline, a menina que se estranhou com Willian ontem. Esperei alguma reação alarmante de Thiago, mas ele estava imóvel, parecia não ter visto.


-O que aconteceu? – Questionei me inclinando pra frente para observar o rosto de Thiago, ele estava congelado, nem piscava.
-Isso é uma técnica de fuga, dura só trinta segundos. Preciso falar com você. Apareça aqui ao nascer do Sol. Não comente com ninguém sobre isso e se perguntarem diga que foi um pássaro. – Caroline sumiu com bastante rapidez e eu mal tive tempo de digerir suas palavras. A respiração de Thiago voltou. Estava ainda com a expressão de espanto.
-Thiago? Está tudo bem?
-Você não ouviu o barulho?
-Foi um pássaro. Ele acabou de voar, você não viu? – Não acreditei que estava fazendo aquilo! Estava mentindo porque uma estranha me pediu! As palavras saíram de um modo tão automático que eu pensei estar enfeitiçada.
-Ah, é. – Ele estava desconcertado. Suas bochechas coraram um pouco e olhou para o chão com os olhos pesados. Achei engraçadinho e dei uma risadinha leve. Thiago me olhou um tanto envergonhado e sorriu meigamente. Caminhamos devagar até chegarmos ao banco e nos sentamos.

Comecei a pensar se a garota não ficaria esperando o nascer do Sol por ali mesmo e fiquei com medo de que Thiago dissesse algo que ela não deveria saber. Respirei pesado.

-Eu meti a cara na árvore, fiquei com medo de um pássaro e você fica aí respirando desse jeito – Ele continuava sem graça, mas ainda assim debochou.
-Desculpa. – Ri.
-Tudo bem – Ele tirou o sorriso do rosto – Como foi seu dia? Não te vejo desde o final da aula de ontem...
-Eu e Will fomos dar uma volta.
-Vocês estão saindo? – Ele pronunciou as palavras rapidamente.
-Thiago. – O olhei e ele me encarou – Você se esqueceu das fotos? – Segurei o riso. Fiquei com medo de dar informação a mais e Caroline estar nos ouvindo.
-Caramba! Hoje eu to mal. – Ele disfarçou rindo.
-Devo concordar. – Ri junto – E o que você normalmente faz depois das aulas?
-Vou comer e às vezes vou para a biblioteca.
-Não temos computadores?
-Nós não. Deve ter uns dois ou três em alguma sala principal, mas são restritos e cheios de senhas.
-Percebi mesmo, não tem nada na biblioteca.
-A biblioteca não é mesmo o melhor lugar do mundo. Mas o campo de treinamento fica livre até as 04h. É legal, normalmente ninguém vai.
-Já somos obrigados a ir às aulas, por que alguém iria querer treinar mais?
-Justamente por não sermos obrigados.
-Faz sentido. – Assenti com a cabeça e ele riu de mim.
-Vocês vão sair hoje de novo?
-Não sei. Mas se formos será mais tarde.
-Tá com fome?
-Pra falar a verdade não. Comi antes de descer. – Apertei os lábios. Lembrei do gosto do sangue e ao invés de sentir repulsa senti desejo.
-Ah, entendi. – Thiago concordou parecendo pensar em algo.
-Se você estiver com fome pode ir comer, não me importo.
-Se incomoda se eu for buscar algo e voltar?
-Claro que não. – Sorri.
-Então eu já volto. – Ele se levantou sorrindo e me deu um beijo na bochecha.
-Thiago! Achei você! – Uma voz aguda ecoou de trás. Assustei-me e fechei os olhos por alguns segundos.
-Alice? O que tá fazendo aqui? Já recebeu alta? – Ele estava visivelmente surpreso e não parecia feliz.
-Sim, acabei de receber. Amanhã volto para as aulas. – Nesse momento eu me virei e vi seu rosto. Ela percebeu e me fitou com os olhos cheios de rancor. Se voltou para Thiago e seus olhos adquiriram um brilho falso. – Você vai me fazer companhia hoje não é? – Aproveitou que ele estava se aproximando e agarrou seu braço.
-Claro. – Ele respondeu relutante e me olhou como se pedisse desculpa. Caminharam devagar e ela não parava de falar por um segundo se quer. Os observei até fazerem a volta em direção a porta e sumirem do meu campo de visão.
Depois disso, olhei fixamente para o local onde Caroline havia aparecido e receei de ficar ali sozinha. Talvez devesse subir para o meu quarto, desenhar o rosto de “Alice” – imitei-a mentalmente nesse instante – numa folha e atirar dardos nela. Ou talvez eu devesse ir para meu quarto para arquitetar um plano para pegar o livro secreto da biblioteca. A única certeza que eu tinha é que precisava sair dali, mas meu corpo estava imóvel. Acho que era medo.

-Caroline? – Arrisquei

Como resposta recebi o silêncio. Ainda bem que ela não estava por perto. Em parte fiquei tranquilizada em saber que ela não estava lá. Suspirei e me levantei, ao me virar em direção à entrada principal levei um susto. Tinha acabado de dar de cara com Will que não tinha uma expressão muito agradável, estava com uma cara feia e emburrada.

-Com quem você estava falando?
-Sozinha. – Gaguejei – Tenho essa mania de falar sozinha. – Precisava mudar de assunto, rápido – O que tá fazendo aqui?
-Vim atrás de você.
-Faz tempo que estava escondido?
-Não estava escondido. Cheguei quando você gritava alguém.
-Não estava gritando ninguém, já disse que estava falando sozinha! – Reforcei aquela mentira
- Como sabia que eu estava aqui?
-Fiquei sabendo que você foi dispensada mais cedo, não queria que ficasse sozinha. Mas o que tá fazendo aqui? Pode ser perigoso.
-Nada, só matando o tempo.
-Temos que conversar.
-Sobre o que?
-Fiquei sabendo do ocorrido na biblioteca
-Ah, Will, não foi nada, deixa pra lá.
-Não. É preciso.


Arrepiei-me totalmente, meu estômago se embrulhou de um jeito inigualável, pensei que fosse jogar meus órgãos pra fora ali mesmo, senti uma dor tão forte que parecia que a minha testa estava se partindo no meio. Foi incontrolável, minha visão ficou totalmente turva e eu apaguei.

2 comentários:

  1. Uhu o/ quero mais , não consigo mais parar de ler! Mais , mais , mais ........

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